''Et la réalité remplace la fiction'' : Esaü et Jacob, le roman machadien de la transition

''E a realidade substitui a ficção'' : esaú e Jacó, o romance machadiano da transição

''And reality replaces fiction'' : esau and Jacob, Machado de Assis's novel of transition

• Auteur / Autrice : Ana Carolina De Oliveira Coutinho
• Direction : Paulo Teixeira Iumatti
• Type : Thèse de doctorat
• Discipline(s) : Études du monde lusophone
• Date : Soutenance le 01/07/2022
• Etablissement(s) : Paris 3
• Ecole(s) doctorale(s) : École doctorale Europe latine et Amérique latine (Paris ; 1992-....)
• Partenaire(s) de recherche : Laboratoire : Centre de recherche sur les pays lusophones (Paris)
• Jury : Président / Présidente : Jacqueline Penjon
• Jury : Examinateurs / Examinatrices : Paulo Teixeira Iumatti, Jacqueline Penjon, Maria Elizabeth Chaves de Mello, Michel Riaudel
• Jury : Rapporteur / Rapporteuse : Maria Elizabeth Chaves de Mello, Michel Riaudel

Mots clés

Mots clés contrôlés

Rio de Janeiro (Brésil)

Thèmes, motifs

Assis, Machado de (1839-1908). Esaú e Jacó

Métafiction

Dans la littérature

Politique et gouvernement -- Brésil -- 1889-1930

Mots clés libres

Machado de Assis

Esaü et Jacob

Métafiction

Fiction et Histoire

Théorie du roman

Passage de l'Empire à la République au Brésil

Machado de Assis

Esaú e Jacó

Metaficção

Ficção e História

Teoria do romance

Transição do Império à República no Brasil

Machado de Assis

Esau and Jacob

Metafiction

Fiction and History

Theory of the novel

Transition from Empire to Republic in Brazil

Résumé

La transition de l'Empire à la République, au Brésil, a été marquée par une série de changements dans les domaines social, économique, politique et culturel. Poussée par le nouvel ordre capitaliste dicté par les nations centrales, la classe dirigeante, alliée à l'élite technocratique, n'a pas hésité à user de moyens coercitifs pour se débarrasser du passé colonial. Ainsi, au détriment d'une grande partie de la population, soucieux d'intégrer enfin la liste des nations dites civilisées, ce pays entame une course vers le progrès. Dans ce contexte, Rio de Janeiro devient la vitrine d'une élite qui affiche un air de modernité et d'élégance. Le remodelage de la capitale a cependant aggravé les disparités entre le peuple et les classes aisées. C'est dans cette ville en pleine transformation que Machado de Assis écrit l'avant-dernier roman de sa carrière, Esaú e Jacó, publié en 1904. Ce texte porte sur une discussion à propos du rapport entre littérature et réalité. On y retrouve un narrateur qui traite de la construction de son intrigue et de la représentation des événements concernant la transition politique de l'Empire à la République. Par le biais de ses intrusions, le lecteur est entraîné dans les coulisses du processus narratif. Ainsi, une tension est perçue entre l'intrigue qui s'élabore, les événements historiques représentés et les réflexions d'ordre métafictionnel. En partant, dans cette thèse, de l'idée que, dans ce roman, Machado cherche à dépeindre les difficultés rencontrées par l’écrivain brésilien pour traiter la matière socio-historique glissante de son temps, l’on a cherché à analyser les questions portant sur l'activité fictive et la réalité elle-même qui émergent tout au long du récit. La première partie de cette recherche porte sur le contexte historique dans lequel s’insèrent l'auteur et l'œuvre ; la deuxième est concentrée sur l'analyse du déroulement de l'intrigue entre réflexions métafictionnelles et notation locale ; enfin, la troisième partie aborde la cohabitation complexe entre histoire et fiction dans la représentation des événements politiques de la transition. Nous cherchons ainsi à montrer comment la thématisation historique du livre va de pair avec une réflexion sur la mimésis qui se construit, en soulignant ses limites et ses contradictions. En mettant à nu la fiction, Machado affirme la liberté de la prose littéraire face aux schémas rigides du discours historique et de la tradition réaliste de son temps.

A transição do Império para a República, no Brasil, foi marcada por uma série de mudançasnos âmbitos social, econômico, político e cultural. Impulsionada pela nova ordem capitalistaditada pelas nações centrais, a classe dirigente, aliada à elite tecnocrata, não hesitou em empregar meios coercivos para se desfazer do passado colonial. Assim, em detrimento da maiorparte da população, o país iniciou uma corrida em direção ao progresso, ansioso por integrar,enfim, o rol das nações ditas civilizadas. Nesse contexto, o Rio de Janeiro tornou-se a vitrinede uma elite que ostentava ares de modernidade e de elegância. A remodelação da capital veio, contudo, agravar as disparidades entre o povo e as classes mais ricas. É a partir dessa cidade em plena transformação que Machado de Assis redige o penúltimo romance de sua carreira, Esaú e Jacó, publicado em 1904. O texto traz em seu bojo uma discussão acerca da relação entre a literatura e a realidade. Nele, encontramos um narrador às voltas com a construção de sua intriga e com a representação dos eventos da transição política do Império para a República. Por meio de suas intromissões, o leitor é conduzido aos bastidores do processo narrativo. Desse modo, percebe-se uma tensão entre o enredo que está sendo elaborado, os acontecimentos históricos representados e as reflexões de ordem metaficcional. Partindo da ideia de que, nesse romance, Machado procura retratar as dificuldades do escritor brasileiro com a matéria sóciohistórica escorregadia de seu tempo, a tese busca analisar os questionamentos acerca da atividade ficcional e da própria realidade que se depreendem ao longo da narrativa. A primeira parte da pesquisa aborda o contexto histórico no qual se inserem o autor e a obra; a segunda parte concentra-se na análise do andamento da intriga em meio às reflexões metaficcionais e ànotação local; por fim, na terceira parte, discute-se a complexa coabitação entre a história e a ficção na representação dos eventos políticos da transição. Nesse percurso, buscamos demonstrar como a tematização histórica no livro caminha lado a lado com uma reflexão sobrea mimese que está sendo construída, apontando para os seus limites e contradições. Por meiodo desnudamento da ficção, Machado afirma a liberdade da prosa literária em face dos padrões rígidos do discurso histórico e da tradição realista de sua época.

The transition from the Empire to the Republic, in Brazil, was marked by a series of changes in the social, economic, political and cultural spheres. Driven by the new capitalist order dictated by the central nations, the ruling class, allied with the technocratic elite, did not hesitate to use coercive means to get rid of the colonial past. Thus, to the detriment of most of the population, the country began a race towards progress, anxious to finally integrate the list of the so-called civilized nations. In this context, Rio de Janeiro became the showcase of an elite that boasted an air of modernity and elegance. The remodeling of the capital, however, aggravated the disparities between the people and the wealthier classes. It is from this city in full transformation that Machado de Assis writes the penultimate novel of his career, Esaú e Jacó, published in 1904. The text brings a discussion about the relationship between literature and reality. There, we find a narrator dealing with the construction of his intrigue and with the representation of the events concerning the political transition from the Empire to the Republic. Through his intrusions, the reader is led to “the backstage” of the narrative process. In this way, a tension is perceived between the plot that is being elaborated, the historical events represented and the reflections of a metafictional order. Starting from the idea that, in this novel, Machado seeks to portray the difficulties of the Brazilian writer with the slippery socio-historical matters of his time, the thesis aims at analyzing the questions of fictional activity and reality itself that emerge throughout the narrative. The first part of the research addresses the historical context in which the author and the work are inserted; the second part focuses on the analysis of the plot's progress amidst metafictional reflections and local notation; finally, the third part discusses the complex cohabitation between history and fiction in the representation of the political events of the transition. In this way, we seek to demonstrate how the historical thematization in the book goes hand in hand with a reflection on the mimesis that is being built, pointing to its limits and contradictions. Through the denudation of fiction, Machado affirms the freedom of literary prose in the midst of the rigid patterns of historical discourse and the realist tradition of his time.